
O ensino de canto, assim como outras áreas da música, carrega padrões históricos e estruturais que nem sempre consideram a diversidade vocal e identitária dos alunos. Pessoas trans enfrentam barreiras significativas ao buscar formação vocal, desde preconceitos sutis até a ausência de metodologias adaptadas às suas necessidades vocais específicas.
Mas afinal, existe transfobia no ensino de canto? A resposta é sim – e ela se manifesta tanto em abordagens pedagógicas excludentes quanto na falta de representatividade e reconhecimento de vozes diversas.
Neste artigo, exploramos como a transfobia impacta o ensino do canto, os desafios enfrentados por cantores trans e como tornar a pedagogia vocal mais inclusiva.
1. A Construção Histórica do Ensino Vocal e a Exclusão de Corpos Trans
O ensino tradicional do canto sempre esteve ligado a uma visão binária de gênero, separando vozes masculinas e femininas em classificações rígidas como tenor, barítono, baixo, soprano, mezzo e contralto. Essa divisão desconsidera a existência de pessoas trans e não binárias, impondo expectativas vocais baseadas no gênero designado ao nascimento e não na identidade da pessoa.
📌 Problemas estruturais no ensino de canto:
✔ Divisão rígida de vozes por gênero, sem considerar variações hormonais e transições vocais.
✔ Pouca representatividade de cantores trans no repertório vocal e no material didático.
✔ Falta de professores preparados para lidar com mudanças na voz devido à terapia hormonal.
Essa abordagem reforça a exclusão de cantores trans e limita suas possibilidades vocais.

2. O Impacto da Terapia Hormonal na Voz e a Falta de Acompanhamento Técnico
Para muitas pessoas trans, a terapia hormonal pode provocar mudanças significativas na voz – mas o ensino de canto ainda não se adaptou para oferecer suporte adequado a essas transformações.
📌 Efeitos da terapia hormonal na voz:
✔ Homens trans (pessoas transmasculinas que fazem uso de testosterona):
- A testosterona engrossa as pregas vocais, tornando a voz mais grave.
- Durante os primeiros meses de transição, a voz pode ficar instável, exigindo reeducação vocal para evitar tensão e fadiga.
- O registro vocal pode mudar completamente, fazendo com que a voz pareça “quebrada” até que haja ajuste técnico.
✔ Mulheres trans (pessoas transfemininas que fazem uso de estrogênio):
- O estrogênio não altera a espessura das pregas vocais, o que significa que a voz não muda naturalmente.
- Para alcançar um tom mais agudo e feminino, é necessário trabalho intensivo de ressonância, pitch e modulação vocal.
- Sem orientação adequada, muitas cantoras trans acabam forçando a voz, gerando fadiga vocal e até danos nas pregas vocais.
📌 O problema: O ensino de canto tradicional ignora essas mudanças vocais e não oferece suporte técnico específico para cantores trans, dificultando sua adaptação e evolução e evidenciando a transfobia.
3. A Disforia Vocal e o Impacto Psicológico na Formação Musical
Além das barreiras técnicas, o ensino de canto pode ser um gatilho para a disforia vocal em pessoas trans. Disforia vocal ocorre quando a pessoa sente desconforto intenso ao ouvir sua própria voz, pois ela não corresponde à sua identidade de gênero.
📌 Como a disforia vocal impacta cantores trans:
✔ Medo de cantar em público por não reconhecer sua própria voz.
✔ Evitação de gravações e ensaios vocais devido ao desconforto emocional.
✔ Ansiedade e insegurança ao receber feedback de professores ou colegas.
Em muitos cursos de canto, a falta de sensibilidade sobre essa questão agrava a exclusão de alunos trans, tornando o aprendizado vocal um processo doloroso ao invés de prazeroso.
✔ Dica para professores: Criar um ambiente acolhedor e sem julgamentos, onde o aluno possa explorar sua voz sem pressões, é essencial para ajudar a reduzir a disforia vocal e a experiência de transfobia.
4. A Exclusão de Cantores Trans no Mercado da Música
Mesmo aqueles que superam barreiras no ensino vocal enfrentam dificuldades no mercado musical. A indústria fonográfica ainda impõe padrões estéticos e sonoros baseados na cisnormatividade, criando desafios para cantores trans que desejam se profissionalizar.
📌 Desafios enfrentados por cantores trans no mercado musical:
✔ Falta de representatividade de artistas trans no cenário musical mainstream.
✔ Repertórios e papéis vocais muitas vezes não adaptados para vozes trans.
✔ Discriminação e preconceito em audições e oportunidades de trabalho.
Para que essa realidade mude, é fundamental dar visibilidade a cantores trans e exigir espaços mais inclusivos na indústria musical.

5. Como Tornar o Ensino de Canto Mais Inclusivo para Pessoas Trans
📌 O ensino vocal precisa evoluir para ser mais inclusivo. Algumas mudanças essenciais incluem:
✔ Professores treinados para atender alunos trans, respeitando suas transições vocais e adaptando metodologias.
✔ Flexibilidade na classificação vocal, permitindo que alunos explorem registros além dos padrões de gênero.
✔ Uso de repertórios variados, incluindo músicas de artistas trans para inspirar e valorizar a representatividade.
✔ Ambientes seguros e acolhedores, onde o respeito à identidade de gênero seja prioridade.
✔ Maior presença de cantores trans na pedagogia vocal, criando referência para futuras gerações.
✔ Dica: Se você é um cantor trans em busca de aprendizado vocal, procure professores e escolas de canto que tenham uma abordagem inclusiva e estejam preparados para lidar com diversidade vocal e sobretudo, que combatam a transfobia no ensino de canto.
6. Conclusão
A transfobia no ensino de canto não se manifesta apenas em formas explícitas de preconceito, mas também na falta de estrutura pedagógica para atender vozes trans.
✔ Resumo das principais barreiras no ensino vocal para pessoas trans:
- Divisão binária de vozes masculinas e femininas, excluindo corpos trans.
- Falta de suporte técnico para mudanças vocais devido à terapia hormonal.
- Disforia vocal afetando a confiança e o desenvolvimento de cantores trans.
- Exclusão e preconceito no mercado musical.
Para mudar essa realidade, é essencial que professores, escolas e instituições musicais revisem suas metodologias e adotem práticas mais inclusivas. Todos os corpos e vozes têm espaço na música – o ensino vocal precisa refletir essa diversidade. Se você busca um espaço seguro para estudar canto e reconhecer sua voz, conheça nossas aulas de canto!