
A cultura afro-brasileira moldou profundamente a música vocal no Brasil, influenciando gêneros, técnicas e formas de expressão que vão muito além do que tradicionalmente é reconhecido. O canto na música brasileira carrega marcas da ancestralidade africana, seja na valorização da oralidade, nos padrões rítmicos, na estética vocal ou na relação entre voz e corpo.
Segundo o estudo “Educação Musical, Relações Étnico-Raciais e Decolonialidade”, da professora Regina Nogueira, a influência africana na música brasileira vai além da percussão e do ritmo, afetando diretamente a maneira como o canto é estruturado, com destaque para o improviso, a ornamentação melódica e a expressividade vocal.

O Canto como Expressão Coletiva
Nas culturas africanas, a música é uma experiência coletiva, um elemento fundamental para a comunicação e a preservação da identidade. Esse princípio se manifesta em diversos gêneros vocais brasileiros:
Samba – Fortemente marcado pela tradição dos terreiros e das rodas de samba, onde o canto é responsivo (chamado e resposta) e tem um papel de celebração comunitária. De acordo com o artigo “Sem a cultura negra, a música brasileira não seria tão relevante para o mundo”, publicado no Jornal GGN, o samba é um dos maiores exemplos da resistência cultural negra, tendo surgido como forma de preservar a tradição dos povos escravizados no Brasil.
Jongo e Maracatu – Ritmos afro-brasileiros em que a voz conduz narrativas de resistência e conexão com a ancestralidade. O jongo, por exemplo, influenciou diretamente o surgimento do samba, sendo considerado seu “avô musical” (Associação Brasileira de Educação Musical, 2022).
Canto coral popular – Muitas técnicas contemporâneas de canto coral exploram a sonoridade coletiva e a percussividade vocal herdada das tradições africanas, como ocorre em corais gospel e grupos de música e cultura afro-brasileira
Estéticas Vocais e Timbres Negros
A pedagogia vocal ocidental tradicional tende a privilegiar timbres e técnicas eurocêntricas, como o bel canto, enquanto vozes que expressam estéticas negras muitas vezes são marginalizadas ou consideradas “menos técnicas”. No entanto, a música vocal contemporânea tem resgatado cada vez mais essas sonoridades com raíz na cultura afro-brasileira:
Uso de melismas e ornamentos – Presente no samba, no gospel e na MPB, deriva de tradições vocais africanas e afro-diaspóricas.
Voz percussiva – A articulação rítmica da fala e do canto em gêneros como rap, funk e axé reflete o impacto da oralidade africana. Segundo a Enciclopédia da Música Brasileira (FUNARTE), o canto falado do rap, por exemplo, encontra paralelos nas tradições griôs da África Ocidental, onde os contadores de histórias usavam ritmos falados para transmitir conhecimento e história.
Resgate de dialetos e fonéticas africanas – Artistas como Luedji Luna, Xênia França e Liniker exploram timbres e modos de articulação vocal que fogem dos padrões eurocêntricos e se conectam às raízes afro-brasileiras ancestrais
O Resgate da Ancestralidade na Música Vocal Contemporânea
A música vocal contemporânea no Brasil tem sido palco de um movimento de reafirmação da identidade negra, desafiando padrões coloniais e trazendo referências da cultura afro-brasileira para o centro da criação artística. Alguns exemplos:

Emicida – Embora mais ligado ao rap, incorpora elementos vocais inspirados na musicalidade de matrizes africanas e no samba. Seu álbum AmarElo faz referências diretas à ancestralidade negra e à resistência cultural.

Liniker – Traz um canto cheio de soul e influência do R&B negro norte-americano, ressignificando sua identidade vocal dentro da música brasileira, sobretudo enquanto mulher preta e trans.

Luedji Luna – Mescla canto falado e cantado com influências da música afro-baiana e de tradições africanas.

Xênia França – Explora sonoridades afrofuturistas em suas composições, resgatando elementos do candomblé e da musicalidade afro-diaspórica.
Conclusão
A influência da cultura afro-brasileira na música vocal contemporânea não é apenas estética, mas também política e identitária. O reconhecimento da ancestralidade vocal negra fortalece novas formas de expressão e abre caminho para pedagogias vocais mais diversas e inclusivas.
Como aponta o artigo do Jornal GGN, sem a cultura negra, a música brasileira não teria se tornado um dos patrimônios mais ricos do mundo. A valorização dessas sonoridades é essencial para que a música brasileira continue a se reinventar e a contar sua história de forma autêntica e plural.
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Fontes:
- “Educação Musical, Relações Étnico-Raciais e Decolonialidade”, ResearchGate.
- “Sem a cultura negra, a música brasileira não seria tão relevante para o mundo”, Jornal GGN.
- “As técnicas vocais no canto popular brasileiro”, Repositório Unicamp.
- Enciclopédia da Música Brasileira, FUNARTE.