
O ensino de canto no Brasil e no mundo é historicamente marcado por uma abordagem eurocêntrica, que privilegia técnicas e repertórios ligados à tradição europeia. Esse modelo não apenas define quais estilos são considerados “técnicos” e “sofisticados”, mas também marginaliza práticas musicais de matriz africana e afro-brasileira. O resultado é uma racismo no ensino de canto, mais especificamente na estrutura pedagógica que reforça desigualdades raciais, desvaloriza cantores negros e limita o reconhecimento de suas técnicas vocais no meio acadêmico e profissional.
Se o ensino do canto se propõe a ser uma ferramenta de expressão universal, por que as vozes negras ainda enfrentam barreiras para serem valorizadas da mesma forma que o canto erudito? Neste artigo, vamos analisar como o racismo no ensino de canto se manifesta, seus impactos na profissionalização de cantores negros e as iniciativas que buscam uma pedagogia mais inclusiva e diversa.

1. Racismo no ensino de canto e a predominância eurocêntrica
📌 O problema central: O currículo tradicional das principais instituições de ensino musical prioriza o canto lírico e técnicas derivadas dele, estabelecendo-o como um padrão superior de técnica vocal.
O ensino formal de canto, especialmente dentro das universidades e conservatórios, tem raízes profundas no canto erudito europeu, utilizando técnicas como impostação clássica, apoio diafragmático rígido e vibrato controlado. Embora essas técnicas sejam valiosas, há uma desvalorização das práticas vocais vindas de tradições africanas e afro-diaspóricas, como o gospel, o soul, o jazz e o canto afro-brasileiro.
📌 O viés do “canto técnico” x “canto espontâneo”
Técnicas vocais utilizadas no gospel, no soul e no jazz – gêneros criados por comunidades negras – costumam ser vistas como “dom natural”, enquanto o impostamento vocal do canto erudito é considerado fruto de alto grau de estudo e sofisticação. Esse viés cria uma hierarquia na qual o canto negro é frequentemente tratado como algo espontâneo e sem técnica sistematizada, o que contribui para sua desvalorização no meio acadêmico e profissional.
📌 A exclusão no ensino “popular”
Mesmo quando há espaço para o chamado canto popular, o repertório trabalhado dentro das instituições segue um recorte elitizado, focado em gêneros como a MPB, mas ignorando suas raízes negras. Isso significa que artistas negros que desejam estudar formalmente canto encontram poucas referências que contemplem sua estética vocal.
✔ Dica: Questionar quais estilos são considerados “legítimos” no ensino de canto é o primeiro passo para desconstruir a marginalização de práticas vocais negras e combater o racismo no ensino de canto.

2. A Falta de Representatividade e Seus Impactos
📌 A ausência de professores negros na pedagogia vocal
A falta de professores negros no ensino de canto contribui para um ambiente onde referências e metodologias negras são pouco exploradas ou mesmo desconhecidas. Cantores negros que desejam se aprofundar tecnicamente precisam adaptar suas vozes a padrões eurocêntricos, muitas vezes forçando uma estética vocal que não respeita sua identidade cultural e fisiológica.
📌 Desafios enfrentados por cantores negros no ensino formal:
✔ Dificuldade em encontrar repertório adequado dentro das instituições.
✔ Pressão para modificar sua sonoridade para se encaixar nos padrões acadêmicos.
✔ Pouca valorização de técnicas vocais ligadas ao gospel, jazz e soul.
✔ Falta de incentivos financeiros e institucionais para pesquisas sobre canto afro-brasileiro.
📌 O que isso significa na prática?
Cantores negros frequentemente precisam buscar formação fora das instituições tradicionais, aprendendo por meio de transmissão oral, igrejas e experiências informais. Enquanto isso, o ensino formal de canto recebe incentivos financeiros e acadêmicos para sistematizar técnicas de origem europeia, reforçando uma estrutura que privilegia um único modelo vocal como referência técnica.
Conclusão
O ensino de canto historicamente exclui ou marginaliza práticas vocais negras, reforçando uma visão eurocêntrica sobre o que é técnica vocal legítima. Para garantir um ambiente mais justo e representativo, é essencial questionar essa estrutura e promover a valorização das diversas estéticas vocais.
- Andrade, M. (2021). Educação Musical, Relações Étnico-Raciais e Decolonialidade: tensões, perspectivas e interações para a Educação. ResearchGate. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/348916226
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- Instituto Geledés. (2023). Primeiro barítono negro se forma no curso de canto lírico da UFJF. Disponível em: https://www.geledes.org.br/
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